sábado, 15 de outubro de 2016

LESÕES NO ESPORTE


Pessoalmente, os anos de 2015 e 2016 estão sendo de grande aprendizado para minha carreira esportiva. Os problemas com lesões mais graves e limitantes se iniciaram com um desconforto no joelho direito após o XTerra 50K Ilhabela em Setembro de 2015, onde após o km 32, praticamente andei com dores até a chegada. Na época pensei que o problema seria decorrente da alta quilometragem percorrida, porém no mês seguinte participei de uma Ultramaratona em montanha com duração de 6 horas, disputada em voltas de 3,5Km. O vencedor seria o atleta que percorresse a maior quilometragem ou número de voltas dentro do tempo estabelecido.



O trajeto era desafiador, com single tracks, estradas de chão irregulares e altimetria considerável em cada volta, com árduas subidas e principalmente descidas muito íngremes. Dito e feito, após aproximadamente 4 voltas já estava com meu joelho direito completamente inchado e com movimentos limitados, principalmente nas descidas. Com o corpo aquecido e o calor da disputa pelos primeiros lugares, nem pensei em parar e continuei até o final, obtendo uma honrosa terceira colocação. 



Minha programação seria disputar outra competição de Ultra 12h no mês de Dezembro, como preparação para a Brazil 135, Ultramaratona de aproximadamente 260km, disputados em meio a Serra da Mantiqueira, com um desnível absurdo de mais de 20.000 metros. Na minha opinião a competição mais difícil do país nesta modalidade.
Após a Ultra de 6h, abortei a missão em relação a participação na Ultra de 12h em Dezembro, para que pudesse tratar do joelho direito. Fui ao médico, fiz a ressonância magnética e foi constatada uma tendinite patelar (tendinopatia patelar proximal). O tratamento foi feito com corticoides, relaxantes musculares, alongamento e fortalecimento. Lembrando que NÃO SOU MÉDICO, ou seja, segui as orientações de um profissional qualificado. Senti rápida melhora e em menos de duas semanas voltei a treinar corridas de leve, com baixo volume e intensidade, principalmente na grama e esteira. Foram aproximadamente dois meses e meio me preparando para a Brazil 135 que aconteceria em Janeiro de 2016 e nunca na vida cheguei tão bem preparado para uma competição de alto rendimento.

Logicamente que uma prova de 260km apresenta muitas surpresas, mas larguei num ritmo confortável e segui em frente, liderando a prova por 90km, até que fui ultrapassado pelo segundo colocado. Até ai tudo bem, fazia parte do plano segurar um pouco o ritmo antes do anoitecer, o que não fazia parte do plano seriam as MESMAS dores no joelho que surgiram após uma longa descida. Sem a mínima condição de continuar, mas com muita vontade de brigar pelo título, agonizei até o o km 120, onde abandonei a competição pela metade.


Retornei para Curitiba e resolvi tratar da mesma maneira que tratei da primeira vez, imaginando que não seria necessária uma reconsulta para analisar um problema o qual já conhecia. Além disso, mesmo com o fracasso na Brazil 135, enviei uma aplicação e fui aceito para participar pela segunda vez da Badwater, Ultramaratona de 217km, considerada a corrida mais difícil do mundo, realizada no Vale da Morte na Califórnia sob temperaturas que ultrapassam a casa dos 50°C. 

Me empolguei novamente e logo coloquei outra Ultra de 12h, que seria realizada no mês de Maio no calendário, desta vez disputada numa pista de atletismo com voltas de 360m. Seria uma ótima oportunidade de trabalhar a concentração e todos os aspectos psicológicos que envolvem uma competição deste tipo e teria um bom tempo para tratar das lesões e voltar forte. 
Com foco total na Badwater, passei Fevereiro, Março e Abril, fortalecendo, alongando, indo para a fisioterapia e tomando a medicação necessária. Sentindo a melhora, fui confiante para a Ultra 12h de Quatro Barras/PR no inicio do mês de Maio. 

A prova apresentava atletas de excelente nível técnico e consegui correr por 10 horas na liderança, quando senti o ritmo imposto e acabei caindo para quarta colocação ao final da prova. Fiquei muito feliz com o resultado pelo fato de não ter sentindo nenhum tipo de dor ou desconforto no joelho direito que vinha apresentando problemas. Com isso, resolvi que era a hora de descansar e voltar com tudo, treinar bem para fazer bonito na Badwater. Incluir competições menores no calendário como forma de preparação para competições principais, na minha opinião, é sempre muito bom para reajustar seus treinos e analisar os caminhos que estamos trilhando, além de nos colocar em "situação real de jogo". Durante os treinos mais longos visando a meta principal de Julho, comecei a sentir novamente as dores, só que desta vez nos dois joelhos. Como já estava em fase final de preparação (faltavam aproximadamente 3 semanas para a prova), resolvi que seria melhor parar até a data da competição, mesmo que isso prejudicasse meu rendimento.

No dia 13 de Julho, às 22:00h largamos na noite do Deserto de Mojave. Sempre que alinhamos na largada de uma competição de tão alto nível como a Badwater parece um sonho. Os melhores atletas do mundo estão ali do seu lado. Muitos deles você só vê nas revistas e em documentários, aquilo é irreal, esquecemos de todas as dores e limitações, podem ter certeza. Iniciamos num pelotão com aproximadamente 5 atletas. Estávamos eu, Harvey Lewis, Pete Kostelnick, Carlos Sá e outro italiano que não me recordo o nome, num ritmo confortável e encaixado, em torno de 4:20 / 4:30 por km. Para uma prova de 217km em condições severas este ritmo é muito forte. Desta maneira segurei um pouco e o pelotão por incrível que pareça também recuou. Fiquei me achando "o cara" no meio das feras, foi muito engraçado. Estufei o peito no meu 5:1 e ali fiquei, extremamente feliz! Só que a alegria durou apenas 40km, pois meus dois joelhos começaram a se manifestar novamente com dores insuportáveis, desta vez parecia que tinha duas facas quentes entre os meus ossos. Consegui andar quase que me arrastando por mais 10km e novamente abandonei. Acredito que esta tenha sido a maior decepção esportiva que já tive na vida, pois sentia que poderia acompanhar o pelotão na questão cardiopulmonar, mas não tinha a menor chance com minhas articulações. Fora o dinheiro investido...melhor nem lembrar disso.

Retornando ao Brasil era a hora de visitar novamente o Doutor. Ressonância dos dois joelhos e agora os problemas eram mais graves:


- Derrames articulares;
- Condropatias patelares com fissuras condrais se estendendo as camadas mais profundas;
- Tendinopatias patelares;
- Ligamento colateral medial normoinserido com edema das partes moles adjacentes;
- Gordura de Hoffa;
- Cistos, etc.

Resumindo, arrebentei os meu joelhos, certo? Errado. Ouvi do médico que dentro da carreira esportiva que desenvolvi isso não era nenhum aspecto anormal e que se parasse por um tempo e tratasse novamente com fortalecimento, alongamentos e medicação poderia voltar a correr em pouco tempo. Pois então foi o que eu fiz mais uma vez. Segui para a academia, aulas de alongamento, Pilates e repouso. Lá se foram mais 45 dias até o retorno.


Voltei numa Maratona de Montanha realizada na cidade de Governador Celso Ramos/SC. Consegui finalizar o desafio em 5:33h, sofrendo muito nas descidas com medo de me machucar novamente, porém subindo bem e mantendo excelente pace nos trajetos planos. Ganhei confiança e duas semanas depois já estava competindo novamente em outra prova de 24km em montanha, obtendo o quarto lugar da competição e sem dores. Pensei comigo, agora vai! Como estou pré-inscrito para a Brazil 135 novamente, resolvi encarar uma competição de 100km, toda em estrada de chão, o que oferece alta quilometragem, instabilidades, serras íngremes, corrida na madrugada, sistema de apoio similar, enfim, um excelente treino.
 Esta competição foi realizada na noite de ontem, 14 de outubro de 2016 e cá estou eu, para comunicar que meus joelhos não aguentaram nem 20km neste ambiente. Realmente já não sei mais o que fazer. Fui ao médico, fiz os exames, segui os prazos prescritos, sem sucesso. Acredito que preciso de maior tempo de recuperação sem impactos e, mesmo assim tenho dúvidas se conseguirei retornar a correr. Caso seja possível, terei que optar por terrenos regulares e distâncias menores, abdicando do tipo de competição que mais gosto, as corridas de montanha. Principalmente a Brazil 135, prova que mudou a minha vida e a qual eu tenho uma conexão divina.
Amigos, se eu puder dar um conselho pra vocês é, respeitem o seu corpo, suas dores e limitações, pois nada é mais sagrado que sua saúde. Agora é levantar a cabeça e tentar não desistir, pois esta palavra não faz parte do meu dicionário.

Um grande abraço e espero revê-los pelo caminho. 




4 comentários:

Itabest disse...

Caraca bicho. Vc é guerreiro demais. Mesmo com tantas quebras vc n desiste e vai pra próxima prova.Melhoras pra ti. Pq não podemos ficar sem vc nas corridas longas pra abrilhantar o evento e a gente poder contar. Cara o Bonatto estava lá.e na Badwater vc era o cara da revista pra nós.#Soufã #GoMaluko #Runners

JU BONATO disse...

Luta e muita fé, você sairá dessa.

JU BONATO disse...

Luta e muita fé, você sairá dessa.

Valmir Lana Jr. disse...

Meu amigo, sinto muito pelo que tem passado! Resguardadas as devidas proporções, tive um problema no joelho na preparação para uma prova de 50km, resolvi com um osteopata que tem o curriculo mais foda que já vi até hoje!

Quem sabe o cara não resolve seu problema, caso queira, posso passar este seu relato para ele ver e te dar uma posição!

No mais, desejo uma boa recuperação para você e que volte a fazer o que gosta logo! Abraço!